Como encontrar recomeços a partir daquilo que sobra - na geladeira
Esse texto só existe por causa do dendê. Sim, o azeite extraído da palma e que chegou ao Brasil lá pelo século XVII – e quando digo chegou, vocês sabem como. Minhas amigas queridas voltaram de viagem e me trouxeram um vidro, além de outros presentes carinhosos, como um pano de prato do fã clube da Juliette.

Na cozinha que conheço, existem poucas coisas tão cheias de cor quanto puxar algo no dendê. Nosso último encontro bem de perto foi há uns 7 anos quando eu, ex vegetariana, preparei uma moqueca de banana da terra pra alguém que só merece comer o pão que o diabo amassou. Ainda assim adoro o dendê e seu poder de fazer acontecer.
E fez, mesmo em uma quinta-feira chuvosa, úmida e capenga. Tirou o filtro cinza dos meus olhos – em parte por culpa do daltonismo, em parte exaustão – e me fez enxergar o laranja da abóbora pela metade na geladeira. Do seu lado, um quiabo bem verde, imagino eu, parecia muito afim de se esquentar no visco vermelho. E tinha o resto, a sobra, a raspa de um frango grelhado que pedia uma nova chance.
Na mesma panela suja em que a cabotiá virou creme, o dendê estralou junto com o quiabo fazendo algumas sementes virarem pipoca. SZA cantava still believe in good days quando o frango se juntou a mistura, tendo uma nova chance depois dos 3 dias esquecido na geladeira. Volta o creme, acerta o sal, a pimenta, enche-se o prato fundo.
A primeira colherada ainda bem quente é de pé, na cozinha. Não teria como ser na mesa de jantar porque ela ainda não existe. Esse ‘meio que é o preço dos recomeços, principalmente pra alguém que encara tudo na vida como projeto. Começar de novo às vezes adoece, às vezes é só vazio e às vezes é reconfortante, principalmente quando a gente se permite jogar uma colherada de coalhada no meio do prato.
🥑 para forrar o estômago
mini doc conduzido pela Paola Carosella mostra como a produção de dendê é essencialmente feminina, afrodiaspórica e sobrevive apesar do cerco do agronegócio
reportagem do Metrópoles mostra como o agronegócio está destruindo mais um pedaço da nossa cultura alimentar enquanto violenta populações negras e indígenas
no foninho tem vício inerente da Marina Sena
assisti beef ‘naquele streaming
li cubos médios na news fantástica da Carla Soares
🥣 destaques do menu
caldinho de lentilha com linguiça
pão de queijo do oh brüder
todo milho e pinhão que eu aguentar comer até setembro
obrigada por tua leitura, nos vemos em breve :)