O cara engolido pela baleia e tudo que não está ao meu alcance
participação especial com noias da comunidade garfada
Como se não bastasse ser chileno e viver num país que tem presidente pró-aborto, Adrian Simancas encontrou com uma baleia Jubarte (minha espécie favorita) e foi parar dentro da boca dela. Esse é um daqueles momentos em que tu se pega pensando “god i've seen what you've done for others”. Talvez isso faça de mim uma pessoa invejosa, mas uma das minhas principais ruminações é tentar entender quais são as regras desse sorteio. Não o sorteio de quem vai morrer ou sobreviver de baleia, mas o sorteio de quem merece o melhor da vida.
Quem definiu que uma outra pessoa de 28 anos, que chegou ao mundo na mesma hora, minuto, segundo, centésimo e alinhamento astral que eu, nascesse na Nova Zelândia? Por que me sobrou justamente nascer em um país amaldiçoado, que eu amo, mas não nos proporciona nem 4 anos de paz e estabilidade? Como é possível que pessoas que estudaram comigo tenham viajado pra 30 países só no ano passado? Por que eu não compro o maiô novo que quero, tendo o dinheiro pra comprar, com medo de que aconteça-alguma-coisa? E se acontecer, esses R$100 reais vão resolver a situação? Quanto eu preciso ganhar pra conseguir comprar um teto?
Não tô afim de falar de desigualdade social, meritocracia e privilégios. Eu não quero que ninguém me ensine sobre milhas ou como financiar um apartamento, só quero reclamar, resmungar, me jogar no chão desse espaço virtual, me espernear, depois levantar e seguir meu dia. Ainda que seja possível aproveitar a vida entre idas à praia, compras de livros e carinho em cachorros, eu me desespero no que não alcanço. “Mas você ainda tem tempo”. Tenho? Quem me garante que os países que quero conhecer não serão bombardeados em um surto entre presidentes e o kiko do foguete? Nessa economia, eu posso perder meu emprego, eu posso nunca mais conseguir um emprego, meu emprego pode parar de existir. E se não houver mais oceanos pros bichos do oceano? Ou se houver oceano demais e a vida em uma ilha não ser mais possível?
Dito isso, sobe a vinheta
Bia perguntou
“E se todos nós formos substituídos por IA? 😭
Vai acontecer e vai ser muito cafona.
Isadora perguntou
“Como existem tantas pessoas vivendo suas vidas, pessoas essas que nunca vamos saber quem são, ao invés de serem apenas figurantes dos filmes das nossas vidas?”
Acho que em alguns momentos não somos suficientemente interessantes pra protagonizar nada, mas viver é lutar pelo papel.
Bruno perguntou:
“Eu me importo com a opinião dos outros ou só não estou bem o suficiente comigo mesmo?”
Uma coisa leva a outra, se importar com a opinião dos outros é meio que um sinal de não estar bem consigo mesmo. Exceto quando um amigo fala “melhor não usar essa camiseta estampada com os seios do Thor na entrevista de emprego”, aí é melhor levar em consideração.
Re perguntou:
“Pq q tem gente q me odeia por eu não me odiar mais?”
Surpreenda as pessoas que te odeiam, cuspa na água delas em qualquer oportunidade e informe que cuspiu!
Francisco afirmou:
“Gymrats.”
Somos todos ratos movidos à creatina.
Se quiser participar das noias da audiência, pergunte nos comentários ou me envie um e-mail em camilasaplak@gmail.com
Pra finalizar, uma coisa que eu escrevi pra um livro que provavelmente vai morrer na prateleira do google drive.
COMEÇO DO FIM
Estou escrevendo porque minha existência depende de letrinhas no papel. Isso aqui, a atividade que nos acompanha desde os primeiros anos de vida, funciona como uma bússola para minha sanidade. Estou escrevendo porque a seta aponta pro norte, seja lá o que isso quer dizer, sou péssima em me localizar, mas toda minha raiva está indo na sua direção. Faz calor, não para de chover, tem água até as canelas pra andar na rua, tem água até o telhado de todas as casas daquele bairro, meu refúgio é uma ilha condenada a afundar. Toda corrida eleitoral é uma disputa entre figuras passivas, imbecis ou homicidas. Pessoas dançam em frente à câmera vendendo gominha que faz crescer o cabelo e cura qualquer tipo de câncer. Acompanhe meu dia como uma doente terminal. Escolha meu look para fazer lipo hd 3d na sola do pé. Estou escrevendo porque pessoas da minha idade vão para a Europa 5 vezes por ano e eu nunca vou ouvir uma gritaria em Nápoles. Nunca vou comer comida de rua no Vietnã. Você vai amar o sul da Itália, alguém diz, eu vou me matar na sua frente, isso sim. Sinto inveja de quem tem dinheiro, sinto muita raiva de quem tem dinheiro. Estou escrevendo porque já não tenho mais tempo de ser um prodígio, só tenho tempo de sobra pra ser o que já sou. A cada aniversário, meus méritos perdem valor e toda minha criatividade soa como uma grande fraude. Eu já não posso mais ser o momento, a voz de alguma coisa. Estou escrevendo porque é isso que tenho, apesar de ter perdido meus poemas quando passaram a mão no meu celular. Estou escrevendo porque isso ainda me torna uma pessoa, esse amontoado assimétrico, bonito, inapropriado. É o que posso fazer a respeito. Estou escrevendo porque perdi minha poesia e estou pronta pra acabar.
📚🎬 atualizações
apesar do climinha de Oscar, não estou com SACO pra assistir nada. Comecei Anora, mas dormi. E me revolta muito que os cinemas só estejam passando Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa até às 15h. Quem vocês acham que é o público alvo desse filme??
estou lendo 3 livros e fazendo musculação 3 vezes na semana, isso não é quebrar TODOS os estereótipos?
obrigada por tua leitura, nos vemos em breve :)
eu queria pagar mais de 8 reais pra ler isso com mais frequência
Esse texto do final lembra uma frase de uma artista que eu seguia no Instagram: "a cada dia menos interessada em ser extraordinária". Acho que era layzacamargo o insta dela